Quando pensamos em por que nos exercitamos, é provável que a primeira coisa que venha à mente seja perda de peso ou ganho muscular.
Na verdade, talvez você só pense nessas alternativas, e por um bom motivo - sabemos que há décadas a ciência tem mostrado que o exercício físico regular nos ajuda a perder ou ganhar peso, dependendo da forma como treinamos.
Mas a ciência está sempre avançando e estamos aprendendo muito mais sobre os benefícios de treinar.
E vejam esta descoberta incrível: agora sabemos que os exercícios podem realmente impulsionar sua vida em inúmeras áreas além da perda de peso! Alguns destaques:
- Adultos que se movem vigorosamente por pelo menos 150 minutos por semana não só têm uma chance menor de desenvolver doenças relacionadas ao envelhecimento, como Alzheimer e demência, mas também têm densidade óssea mais forte e corações mais saudáveis.
- Agora sabemos de uma ampla variedade de benefícios que exercícios regulares trazem para a saúde mental. Além dos benefícios mais óbvios, como melhorar o humor, os exercícios podem realmente ajudar a reorganizar seu cérebro.
É isso mesmo que você leu. Treinar pode mudar seu cérebro para melhor. E é este segundo ponto que queremos explorar com você aqui.
Como exercitar o corpo para alimentar a mente: a opinião de um especialista
Exercícios regulares podem melhorar muito sua motivação, seu foco e sua memória. Alguns tem argumentado até mesmo que os exercícios proporcionam benefícios maiores para o cérebro do que para qualquer outra área do corpo.
Isso foi uma surpresa pra você? Pra gente também. Para saber mais sobre como movimentos impulsionados por exercícios reconfiguram o cérebro e como podemos usar isso como o "ingrediente secreto" para atingir nossos objetivos nos treinos e na vida cotidiana, entramos em contato com uma organização líder de esports, a Fnatic, e seu Líder de Fitness, Brad Bowie.
Pedimos ao Brad que esclarecesse um pouco esse tópico tão interessante em uma curta entrevista. Vamos direto ao que ele tem a nos ensinar!
Primeiro, vamos falar de ciência
Vamos começar dizendo que o cérebro é um órgão extremamente importante, pois determina como nos sentimos, pensamos e como agimos em certas situações. Ele não é apenas crucial para a vida cotidiana, mas também tem a capacidade de se adaptar e evoluir com base nas circunstâncias em que nos encontramos. E da mesma forma como podemos trabalhar nossos bíceps, também podemos fortalecer nosso cérebro tornando-o mais forte e mais flexível.
Isso acontece porque o exercício promove a produção de uma proteína em nosso cérebro chamada Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro ou BDNF. O BDNF é quase como um fertilizante para sua mente. Ele ajuda a desenvolver novas células cerebrais, criar novas sinapses e, por sua vez, impactar positivamente nossos neurotransmissores1, 2. Os neurotransmissores, em essência, conectam as diferentes áreas do nosso cérebro para que a estrutura funcione em conjunto.
Por exemplo, quando a gente treina, neurotransmissores como dopamina, serotonina e norepinefrina são disparados repetidamente e aumentam nossos níveis de motivação, humor, foco e tempos de reação. Depois de um único treino, esses benefícios podem ser desfrutados pelo menos nas duas horas seguintes.
Os exercícios também liberam os hormônios da felicidade, conhecidos como endorfinas. Ter um novo suprimento desses neurotransmissores pode ajudar na clareza mental, controle emocional, maior concentração e sentimentos de euforia.
Tudo isso combinado pode ajudar a promover uma atitude positiva e um diálogo interno que pode ajudar o jogador em situações estressantes. O treino também dispara sinapses por todo o cérebro, ajudando potencialmente a mecânica (controle do teclado e mira do mouse) do jogador a se tornar mais suave e responsiva durante o jogo.
Como mencionado acima, o exercício melhora e cria novas sinapses em todo o cérebro. Essas sinapses não são apenas relacionadas ao exercício - nossos cérebros usam-nas para aprender com mais eficácia e melhorar a memória.
Muito parecido com o sono, o exercício ajuda a eliminar os resíduos metabólicos que o cérebro libera como um subproduto de sua atividade, aumentando ainda mais sua capacidade de operar em um nível ideal.
Dito isso, ao se exercitar pelo menos 3 a 5 vezes na semana por um mínimo de 30 minutos por sessão, você pode colher imediatamente benefícios de curto prazo, como maior concentração, e benefícios de longo prazo, como proteção contra doenças. Imagine só uma situação em que você só ganha.
Cada exercício traz um benefício diferente
Exercícios aeróbicos como correr ou pular corda são excelentes para o cérebro. Esse tipo de exercício não só ajuda a manter um sistema cardiovascular saudável, mas também ajuda na saúde do cérebro, preparando o cérebro para o aprendizado, melhorando as vias neurais por todo o corpo, liberando dopamina e serotonina e liberando proteínas chamadas fatores de crescimento.
O treino de resistência ou força ajuda a fortalecer o corpo por meio de muitos padrões diferentes de movimento, corrige desequilíbrios causados por longas horas na posição sentada e melhora a resistência postural.
De acordo com Brad, isso é muito importante, especialmente para os jogadores de esports que estão acostumados a ficar sentados por longos períodos de tempo.
Os exercícios de mobilidade, como alongamento ou ioga, ajudam a melhorar ou a manter a capacidade do corpo de se mover através de posturas sem dor e assim como o treino de resistência, são usados para corrigir desequilíbrios.
Quando você deve treinar? Bom... Você é "madrugador" 🌅🐦 ou "noturno" 🌃🦉?
A resposta simples é que o momento ideal para se exercitar depende da pessoa que está treinando. Ninguém é igual.
Os tempos de treino ideais são afetados pela rotina e cronótipo do indivíduo (seu ritmo circadiano particular).
Por exemplo, duas pessoas podem ter sensações diferentes ao treinarem às 10h da manhã. Ao dizer isso, Brad recomenda que o treino de baixo impacto (cardio/mobilidade em estado estacionário) seja feito no início do dia e o treino de alto impacto/alto rendimento mais tarde (musculação, HIIT, sprints, etc).
No entanto, essas regras não são rígidas. No geral, o mais importante é que o treino seja concluído, mesmo que você nem sempre esteja treinando no seu horário favorito (#NoExcuses!)
Mantenha seu cérebro em ordem
De acordo com Brad, “tudo funciona, algumas coisas funcionam melhor e por mais tempo, mas nada funciona para sempre”.
Quer você seja um profissional experiente ou esteja apenas dando os primeiros passos em sua jornada, às vezes você poderá sentir que não está avançando. Lembre-se de que o progresso não é uma linha reta, mas sim cheio de altos e baixos.
Além disso, esteja ciente de sua energia física e mental durante o treino, e se você notar emoções negativas, diálogo interno improdutivo ou dor física de qualquer tipo, dê um passo atrás e pergunte-se honestamente o que pode estar errado.
Talvez seja hora de mudar seu tipo de treino. Conforme mencionado anteriormente, quando nos exercitamos, fortalecemos as vias neurais existentes e também criamos novas vias.
O mesmo ocorre quando estamos aprendendo uma nova habilidade. Ganhar uma habilidade de nível intermediário em uma série de atividades diferentes pode ajudar a manter o cérebro adaptável e maleável para novos estímulos, aumentando a capacidade de resolver problemas e aprender coisas novas com maior velocidade.
Ao realizar vários tipos de treino, você está forçando o corpo a ter que se coordenar em um padrão desconhecido e, portanto, se adaptar ao novo estímulo.
Treine pelo seu cérebro
Concluindo, embora fazer algum exercício seja sempre melhor do que nenhum, para colher os incríveis benefícios cognitivos de longo prazo do treino, encontre os exercícios que você realmente gosta de fazer! Assim, é mais fácil manter os bons hábitos e ser consistente.
Ao fazer isso, sua mente ficará mais focada, energizada, clara e é provável que você melhore seu desempenho em todas as áreas da vida - seja nos seus treinos do Freeletics, nas competições de esports, na sua vida profissional diária e muito mais.
E lembre-se: quanto antes você começar a se mexer, mais cedo seu cérebro começará a subir de nível.
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1 Liou, S. (2019, July 12). Brain-derived neurotrophic factor (BDNF) – HOPES Huntington's Disease Information. HOPES Huntington’s Disease Information.
2 Sleiman, S. F., Henry, J., Al-Haddad, R., el Hayek, L., Abou Haidar, E., Stringer, T., Ulja, D., Karuppagounder, S. S., Holson, E. B., Ratan, R. R., Ninan, I., & Chao, M. V. (2016). Exercise promotes the expression of brain derived neurotrophic factor (BDNF) through the action of the ketone body β-hydroxybutyrate. ELife, 5.